quinta-feira, 25 abril

Entretenimento vilão

Texto por: admin 2 fevereiro, 2018 Sem comentários

O uso exagerado da internet e das redes sociais pode prejudicar o cérebro e a saúde emocional?

Em entrevista concedida pela Dra. Susan Greenfield à revista Ser Médico, do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (nº 62, jan-mar 2013), a neurocientista professora de farmacologia sináptica da Universidade de Oxford e de fisiologia do Lincoln College, Inglaterra, mostra os perigos para a saúde quando há excesso do uso da internet. Ela explica que o desenvolvimento mental de crianças e adolescentes pode ser prejudicado pelo imediatismo das imagens na internet, pois elas não oferecem uma evolução saudável das estruturas conceituais que ligam um fato a outro: “É o oposto das histórias contadas pelos pais, que oferecem início, meio e fim, lógica que estimula o cérebro a pensar em sequência, associar a causa, o efeito e o significado, declara a Dra. Susan.

Perguntada sobre as novas tecnologias, se a internet e os jogos de computador tornam as crianças mais inteligentes, a resposta dela foi: “É preciso distinguir a ‘inteligência fluída’, relacionada à resolução de problemas novos, que não necessitam de instruções aprendidas pela experiência e por fatores socioculturais, da inteligência cristalizada’, vinculada ao conhecimento adquirido no decorrer da vida. Quando eu tinha 16 anos, adorava Shakespeare e fazia meu irmãozinho de três [anos] decorar falas de Macbeth. Ele aprendia rapidamente, entretanto não era capaz de entender. Não estava ficando mais inteligente, estava apenas demonstrando sua capacidade de traçar um desenho mental nada cristalizado. Meu irmãozinho sabia de cor uma cena de Macbeth, em que a finitude da vida é simbolizada pela luz de uma vela. Se alguém perguntasse o significado, ele diria: ‘Isso é uma vela. Ela apaga. É o meu aniversário?’ Isso é informação, não conhecimento, que demanda introjetar e contextualizar um fato. A partir de estudos, temo que permanecer na internet exageradamente infantilize o cérebro, justamente pela exposição repetida a flashes e imagens luminosas, sem conteúdo nem estrutura. O risco é moldarmos uma geração de jovens incapazes de pensar por si mesmos ou apáticos com os demais.”

Ela comenta ainda que, se uma criança fica algum tempo no computador, mas também vivencia outras coisas, como brincar no quintal, subir em árvores, correr pela praia, ter contato afetivo com os outros por meio de abraços e beijos, ter amigos reais com quem brinca, isso é totalmente diferente de uma criança que permanece horas e horas num aparelho eletrônico, excessivamente em frente a uma máquina sem outras práticas saudáveis. Não é saudável, afirma a neurocientista, um adolescente (ou adulto) se sentir sozinho caso não esteja conectado à internet.

Vício moderno

Mas por que as pessoas estão ficando viciadas em redes sociais? “Parece que perder dias nas redes sociais é menos estressante do que conversar ao vivo. Na rede não é preciso enfrentar entonações de voz, cheiros, contato físico, olhos nos olhos, se expor a brigas, etc. Ao fugirem de situações corriqueiras que exigem iniciativa e coragem, tendem a se desenvolver de maneira indevida sem se dar conta, pois o cérebro humano é bom em camuflar certas coisas. Se o ambiente for limitado a duas dimensões – visão e audição – por um período de dez horas diárias ou mais, o cérebro terá seu funcionamento modificado. Conexões podem ser perdidas e, com elas, a oportunidade de se tornar uma pessoa normal.”

A cientista faz uma conexão também entre os jogos de videogames e a violência social, reconhecendo que, apesar de este ser um assunto complexo, existe alguma relação entre uma coisa e outra. “Por que jovens queimam lojas, quebram estruturas sem ter a intenção de ao menos roubar coisas? Matam sem razão de matar, sem qualquer significado político, ideológico ou social?”, ela questiona.

Outros trabalhos científicos também abordam o assunto. O cientista Fuchun Lin, da Academia Chinesa de Ciências (revista PLOS One, 2012), por exemplo, conclui que “jovens que navegam demais nas redes apresentam mudanças cerebrais semelhantes àquelas verificadas em compulsivos por jogos de azar”. E outro estudo, da cientista Daphne Bavalier, da Universidade de Rochester, EUA (Neuron, 2010), “mostra a grande correlação entre exagero no computador e anormalidades cerebrais.”

Facebook e depressão

Em cidades do interior ainda se pode ver, aos domingos e feriados, pessoas conversando sentadas em cadeiras na calçada em frente de suas casas. Isso é uma rede social real, não virtual, e por isso fortalece as relações humanas, descontrai e favorece a saúde física. No entanto, a maior parte do mundo tem andado a passos largos na direção oposta, ou seja, na de uma vida social virtual. O sucesso das redes sociais é um sintoma da sociedade, que pode denunciar a distância afetiva produzida, em parte, por uma vida estressante e por carências afetivas. Mas esse é um assunto para outro momento.

Na Universidade de Houston (EUA), um estudo revelou que pessoas que gastam tempo demais no Facebook geralmente comparam suas vidas com as atividades e realizações dos amigos, o que se demonstrou ter que ver com sintomas depressivos. Isso não significa que ficar visitando o Facebook produza depressão nas pessoas, mas, segundo a pesquisadora Dra. Mai-Ly Steers, “sintomas depressivos e muito tempo no Facebook comparando a si mesmo com o outros tendem a ir de mãos dadas”.

Steers chama a atenção para o fato de que um dos perigos da comparação de sua vida com a vida de pessoas que você observa no Facebook é que “amigos tendem a postar sobre coisas boas que ocorrem na vida deles, enquanto deixam de fora as coisas ruins”. Assim é fácil fazer a comparação e concluir que a vida deles seja melhor do que realmente é, e melhor que a sua, colaborando para que você se sinta pior sobre sua vida. Steers diz ainda que “as pessoas afligidas com dificuldades emocionais podem ser particularmente suscetíveis a sintomas depressivos devido às comparações sociais no Facebook, após gastarem mais tempo [online] em média”. Tendo uma visão de forma distorcida quanto aos amigos do Facebook, essas pessoas podem se sentir mal em suas lutas pessoais e ter sentimentos destrutivos, solidão e isolamento.

Steers espera que seu estudo possa contribuir para que as pessoas entendam que a tecnologia pode ser uma arma de dois gumes, porque produz consequências positivas e negativas, dependendo do seu uso e da vida emocional pessoal. Ela também deseja que a pesquisa sirva para ajudar as pessoas com tendência depressiva a reduzir o uso do Facebook.

Talvez seja oportuno você pegar uma cadeira, colocar na calçada e, com outras pessoas, fazer ali uma rede social real. Isso funciona para prevenir transtornos emocionais, melhorar a saúde física, incluindo a longevidade. Quer melhorar sua saúde e prevenir doenças? Então, menos shopping e mais convívio com a natureza; menos redes sociais e mais conexões humanas reais!

Cesar Vasconcellos de Souza
www.portalnatural.com.br

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