quinta-feira, 28 março

Prazer agora, porque amanhã morreremos

Texto por: admin 17 novembro, 2016 Sem comentários

Na dosagem certa e no momento certo, o prazer potencializa a felicidade e a vida

Que o imediatismo é um dos grandes males da nossa era, isso todo mundo já percebeu. Alguns filósofos, teóricos e também especialistas atribuem à tecnologia, ao universo virtual e à midiatização da sociedade uma porcentagem dessa síndrome de urgência, algo quase emergencial, que submete a felicidade ao hoje, ao agora, de preferência a este instante.

Estudos pretendem explicar tal característica sob perspectivas bastante atuais. Por exemplo, os ilimitados recursos tecnológicos, que rompem fronteiras e promovem interação de alta velocidade, em grande escala, e com apenas um clique, parecem colaborar para a ansiedade mundial.

Mas não é só isso. No que diz respeito ao ser, a sociedade vive há algum tempo a realidade de uma cultura espetacular. Cultura que valoriza a imagem e, por isso, alimenta pessoas obcecadas pela beleza e autoprojeção; fortalece atitudes excessivas de consumo visual, do corpo, e colhe como consequência a exaltação do prazer.

Unindo a rapidez tecnológica à exaltação do prazer, voltamos ao hedonismo, doutrina filosófica que proclama o prazer de agora como o fim supremo da vida. O lema hedonista é: “comamos e bebamos agora, porque amanhã morreremos”. Talvez não estejamos voltando ao hedonismo, talvez nunca tenhamos saído dele. E para provar isso, estão entre nós, ano após ano, as festas carnavalescas, período em que se torna comum a seguinte declaração: “No carnaval vale tudo!”
Com origem na Grécia, mais ou menos em 600 a. C., o carnaval tinha como objetivo prestar homenagem e agradecimentos aos deuses pagãos pela fertilidade e produtividade do solo. Depois de algum tempo, não somente os gregos, mas também os romanos, adaptaram à festa as atividades sexuais e as bebedeiras, algo que a igreja católica não aceitou inicialmente.

Contudo, séculos mais tarde, o catolicismo tentou assimilar o carnaval, fazendo dele um ato oficial da igreja. Mas a tentativa não durou muito nem agradou a população, já acostumada à “bagunça”. Diante disso, o que se viu pouco mais adiante foi o carnaval se tornando definitivamente uma manifestação popular, de festividades variadas, podendo ser apenas um baile de máscaras como também episódios de exageros em torno do prazer. O carnaval, do latim, carne vale, se solidificou como a festa da carne, chegando aos nossos dias cada vez mais sem regras no comer, no beber ou em qualquer outra coisa que ofereça prazer imediato.
Infelizmente, a Aids está aumentando entre os jovens, o que confirma a propagação da mentalidade do prazer. Segundo o Ministro da Saúde, Alexandre Padilha, o aumento da incidência de Aids entre os jovens, especificamente entre os homossexuais, é uma de suas grandes preocupações. De acordo com levantamento do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre o HIV/Aids (Unaids), o Brasil tem atualmente entre 490 mil e 530 mil soropositivos. No extremo oposto, a pesquisa diz que perder a virgindade mais tarde, isto é, adiar o prazer voluntariamente, pode ajudar na construção de bons relacionamentos.
Estudo recente da Universidade do Texas, nos Estados Unidos, sugere que indivíduos que tiveram a primeira experiência sexual mais velhos podem ter relacionamentos amorosos mais satisfatórios quando adultos.

Falar em prazer é sempre um tanto complicado, afinal ninguém quer abrir mão dele. Mas, talvez, saber esperar por ele ou quem sabe desfrutá-lo na dosagem certa, possa ser o que realmente potencialize o grande prazer da vida. E engana-se quem pensa que Deus reprova o prazer. Quando esteve na Terra, Jesus disse aos discípulos, algo que se estende a nós: “Tenho lhes dito estas palavras para que a Minha alegria esteja em vocês e a alegria de vocês seja completa” (João 15:11).

É do interesse de Deus que tenhamos prazer equilibrado para tornar a vida mais feliz, plena e abundante, bem diferente do prazer sem limites e autodestrutivo, que atrai doenças, sacrificando a vida precipitadamente.

Ágatha Lemos é editora associada de Vida e Saúde

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