segunda-feira, 09 dezembro

A natureza oferece recursos especiais capazes de fazer diferença entre a vida e a morte no enfrentamento da Covid-19; use essas armas

Everton Padilha Gomes e Kátia Regina Maruyama Gomes

O coronavírus-19 impactou de forma única todo o mundo. No momento em que escrevemos este artigo, chegamos próximos à impressionante marca de quase 125 milhões de pessoas infectadas no planeta, com quase dois milhões e oitocentas mil mortes. Só no Brasil, chegamos à impressionante marca de 12 milhões de infectados, com quase 300 mil mortes. Embora possamos olhar com esperança a realidade das milhões de pessoas recuperadas, restam fatos importantes, como o impacto da doença na vida dos cidadãos, bem como os efeitos sentidos na sociedade e na economia. Muitas têm sido as abordagens de enfrentamento desta pandemia, indo desde cuidados de higiene e distanciamento social, até tentativas de quimiopro-filaxia e a perspectiva da imunização da população – cada uma dessas iniciativas transparece como um possível alívio para a situação atual. Infelizmente, não temos uma estratégia cem por cento efetiva e totalmente garantida na abordagem da doença. Entretanto, após um ano de convivência com ela, temos a possibilidade de observar alguns fatores e hábitos que podem influenciar na evolução positiva ou mesmo desfavorável do quadro. E já podemos dizer com certeza: hábitos saudáveis fazem diferença para uma pessoa infectada pelo coronavírus.

Entendendo o problema

Qual o maior problema envolvido em uma infecção pela Covid-19? Para entender o que ocorre, precisamos saber que alguém infectado pode passar por algumas fases, e que o organismo vai reagir de formas diferentes à doença. Em 80% dos casos, os sintomas são benignos: queda do estado geral, mal-estar, perda do olfato ou paladar, sintomas respiratórios, como coriza e sensação de resfriado prolongado, sem comprometimento grave ou risco de morte. Alguns ainda podem apresentar de maneira mais rara diarreia ou conjuntivite. Esses pacientes manifestam, portanto, apenas os sintomas que consideramos como primeira fase, e não evoluirão além desses sintomas.

Contudo, os 20% restantes terão a doença, pelo menos em grau moderado com acometimento do sistema respiratório. Nesse caso, a evolução dos sintomas acontece após a segunda semana, com o aparecimento de tosse seca, dor nas articulações, dor nos músculos e febrícula até febre baixa, com temperatura entre 37,5 e 38 ºC, naquilo que conhecemos como segunda fase. Destes, 5% necessitarão de internação em Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

1 – Água

Uma das primeiras constatações que tivemos no meio da terapia intensiva foi a importância de manter uma higiene adequada como forma de prevenção da contaminação por coronavírus. Embora tenha sido dada ênfase constante no uso de álcool em gel, a higienização frequente e correta das mãos com água e sabão é uma das medidas mais importantes para prevenir a infecção pelo SARS-CoV-2. Estudos também têm demonstrado uma diminuição importante da presença de partículas virais com o uso frequente de água como meio de higiene.

Além disso, para permanecer resistente ao coronavírus e às consequências da infecção, é essencial manter-se bem hidratado. Isso reduz o risco de infecção viral e as consequências da infecção (que muitas vezes podem envolver febre, diarreia, náusea, etc.). “Bem hidratado” significa beber um mínimo de 30 ml/kg de peso ao dia. Isso também aumenta o débito urinário, exigindo várias idas ao banheiro, aumentando, assim, a atividade física que ajuda a evitar o descondicionamento (para aqueles que não podem ou não querem se exercitar). Mas evite beber muito líquido no fim da tarde ou à noite; isso pode atrapalhar o sono noturno.

Uma técnica de hidroterapia que você pode praticar consiste em terminar seu banho diário com uma breve ducha fria. Esse tratamento simples demonstrou ajudar o sistema imunológico a funcionar de maneira mais eficaz. Também é muito revigorante. Quando você sabe que foi exposto a resfriado, gripe ou Covid-19, pode começar a tomar contrastes ou banhos alternados. Tudo de que você precisa é um chuveiro com capacidade de alternar rapidamente as temperaturas entre quente e fria, e uma toalha seca.

Merece menção o interessante trabalho do Dr. Roger Seheult, professor da disciplina de Terapia Intensiva da Escola de Medicina de Loma Linda, com o uso da água na ativação do sistema imune de forma controlada, evitando, assim, a tempestade de citocinas. Parte das técnicas empregadas podem ser encontradas no site www.hydro4covid.com

2 – Ar

Espaços internos mal ventilados apresentam risco aumentado de transmissão da Covid-19, e vários métodos foram propostos para avaliar o risco em ambientes fechados. No artigo “Modelling uncertainty in the relative risk of exposure to the SARS-CoV-2 virus by airborne aerosol transmission in buildings”, o coordenador da pesquisa, Shaun Fitzgerald, mostra que um bom suprimento de ar fresco para diluir e dispersar o vírus pode reduzir o risco de infecção em 70% a 80%.

3 – Exercício

Exercite-se em intensidade moderada por 30 a 45 minutos em casa todos os dias. O nível de atividade recomendado para uma boa aptidão cardiovascular é de 150 minutos por semana. O tipo de exercício necessário deve aumentar a frequência cardíaca, e é chamado de exercício aeróbio. Se necessário, compre uma bicicleta ergométrica. O exercício de intensidade moderada é conhecido por melhorar a função imunológica e potencialmente reduzir o risco e a gravidade da infecção viral respiratória (Martin et al. 2009), semelhante à infecção causada pelo coronavírus.

Faça exercícios pelo menos cinco dias por semana no mesmo horário todos os dias para criar o hábito, e passe algum tempo ao ar livre todos os dias para tomar sol e ar fresco. Qualquer mudança na atividade física, entretanto, deve ser aprovada por um médico ou educador de saúde e gradualmente aumentada em duração e intensidade, para atingir os objetivos desejados.

4 – Luz Solar

A luz solar é tão vital para a manutenção da saúde e do bem-estar quanto os alimentos, a água e o oxigênio. Aumenta a imunidade, melhora o humor, a qualidade do sono, combate a depressão, ajuda a regular a pressão arterial, mata bactérias, reduz inflamações, ajuda no controle do peso corporal e produz vitamina D.

A vitamina D (que na verdade é um hormônio) atua na regulação da absorção do cálcio, modula vários mecanismos do sistema imunológico, reduz a concentração de citocinas pró-inflamatórias e aumenta os níveis de citocinas anti-inflamatórias, aumenta a produção de peptídeo antimicrobiano e ativa células de defesa, os linfócitos do tipo T (imunidade adquirida) e os macrófagos (imunidade inata).

Devemos tomar sol diariamente em exposições curtas, em torno de 10 a 15 minutos por dia nos braços e pernas, para a produção de vitamina D, durante horários entre 10 e 15 horas, sem protetor solar. Isso também ajuda o corpo a produzir substâncias prazerosas, como as beta-endorfinas, que geram sensação de bem-estar após a exposição ao sol. Somente o sol pode regular o ritmo circadiano e assegurar um ciclo de sono/vigília saudável.

Em relação à Covid-19, observações iniciais feitas na Alemanha sugerem que uma baixa concentração de vitamina D no sangue foi associada a um desfecho 30% maior de pior evolução clínica e até de óbito.

E quanto à suplementação de vitamina D? A vitamina D gerada a partir da luz solar permanece no corpo por tempo maior, ou seja, os benefícios são mais duradouros. Embora a suplementação oral seja importante, a presença dela no organismo permanece um pouco mais de oito horas antes de ser excretada em sua maioria. Assim, a vitamina D pela luz solar é obtida de maneira mais simples e prática, com menos efeitos colaterais.

Em caso de suplementação oral, atente-se à quantidade de água que se toma durante o dia. Manter-se bem hidratado permite melhor aproveitamento dos efeitos benéficos da vitamina D com menor incidência de efeitos colaterais.

5 – Repouso

O sono é um processo fisiológico que tem propriedades restauradoras e regulatórias, com particular interesse nos últimos anos, devido à sua influência potencial no sistema imunológico, embora não se entendam completamente os mecanismos envolvidos. Muitos estudos demonstraram que a privação total do sono e do movimento rápido dos olhos (REM) modificou vários componentes do sistema imunológico, tanto da resposta celular à infecção, quanto ao nível de citoquinas, substâncias envolvidas na resposta imune. Além disso, por outro lado, os padrões de sono são alterados durante a resposta imune, como, por exemplo, durante uma infecção, sugerindo que o sono e a resposta imune estão ligados por meio de comunicação bidirecional.

Os distúrbios do sono podem fazer parte do quadro clínico que evolui para infecção. Em estudo com homens e mulheres infectados com o rinovírus tipo 23, os pacientes diminuíram o tempo de sono, enquanto a eficácia do sono caiu 5% durante o período ativo do vírus, em comparação com o período de incubação. Essas alterações foram maiores em indivíduos assintomáticos e podem sugerir o quanto de interação existe entre uma infecção viral e o tipo do sono.

Pesquisas indicam que não dormir o suficiente pode afetar adversamente a imunidade e aumentar a vulnerabilidade a infecções virais como a Covid-19. Tente dormir de sete a oito horas por noite. O sono durante o dia pode atrapalhar. Vá para a cama à mesma hora todas as noites e levante-se à mesma hora todas as manhãs. Isso ajudará a regular seu ritmo circadiano.

6 – Temperança

Temperança está tanto intimamente ligada ao equilíbrio quanto a uma atitude salutar diante das adversidades. A pandemia pela Covid-19 demonstrou um lado sombrio no aumento do consumo de álcool e drogas. Pesquisa feita no Canadá no fim de 2020 demonstrou que houve uma prevalência no uso de álcool em 30% entre os jovens. Detalhe importante é que em 42% dos casos os jovens e adolescentes relatam o consumo de álcool na companhia dos pais. Quanto mais cedo for o uso, maior o risco de dependência; por isso, nenhum consumo de álcool é aceitável antes dos 18 anos. “Há riscos à saúde dos adolescentes em curto e longo prazo”, alerta Arthur Guerra, psiquiatra e presidente executivo do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA).

7 – Alimentação adequada

Uma das primeiras observações que tivemos sobre a importância do poder protetor de uma alimentação saudável e a incidência de infecção por Covid-19 veio da Índia em maio de 2020, onde aparentemente pessoas com dieta vegetariana tiveram menor incidência de infecção por coronavírus. Sugere-se, dessa forma, que a dieta vegetariana poderia ser considerada um fator protetor, quando comparada a uma dieta rica em proteína animal e gorduras.

Uma alimentação adequada e balanceada com cereais integrais, frutas, verduras, proteínas, carboidratos e gorduras saudáveis presentes em castanhas, nozes, amêndoas, azeitonas, consumidos com equilíbrio, garante uma dieta benéfica que atua na prevenção de doenças crônicas e, consequentemente, gerando mais saúde e disposição para realizar nossas atividades diárias.

Evite alimentos inflamatórios. Em geral eles possuem alto índice glicêmico, são pobres em fibra e ricos em gorduras trans (presentes em margarinas sólidas, biscoitos recheados, empanados, congelados industrializados) e gorduras saturadas (presentes em manteiga, queijos amarelos, carnes com alto teor de gordura, chocolate). São exemplos desses alimentos: frituras e alimentos muito gordurosos; embutidos derivados de carne; refrigerantes e bebidas alcoólicas; alimentos açucarados, doces e sorvetes; massas em geral preparadas com farinha branca; alimentos ultraprocessados (c

ontêm grandes quantidades de sal, açúcar, gorduras, conservantes e aromatizantes).

Esses são alimentos que afetam negativamente o sistema imune com respostas na produção de substâncias pró-inflamatórias de modo direto, e na microbiota intestinal, de

modo indireto.

A nutrição adequada também é fundamental para garantir um bom suprimento de micronutrientes (vitaminas e minerais) necessários para o desenvolvimento, manutenção e expressão da resposta imune. Alimentos vegetais contêm muitas vitaminas e minerais essenciais para um sistema imunológico saudável, como zinco, selênio e vitaminas A, C e E. Isso, por sua vez, pode aumentar a resiliência das pessoas à Covid-19 e demais infecções.

De acordo com pesquisas, há ainda evidências de que os padrões dietéticos vegetarianos estão associados à redução das concentrações séricas de proteína-C reativa, fibrinogênio e leucócitos totais, que são marcadores inflamatórios. Esse padrão de dieta também pode diminuir o risco de doenças crônicas não transmissíveis, como, por exemplo, hipertensão arterial, diabetes e obesidade, condições que tendem a piorar a evolução do quadro mais grave da Covid-19.

8 – Confiança no Poder Divino

De modo muito interessante, a pandemia pôde demonstrar a importância de uma atitude de fé e confiança no poder divino. De fato, um dos primeiros trabalhos científicos a checar a influência de uma atitude de fé na saúde mental foi realizado no Brasil. Quatrocentos e oitenta e cinco pessoas, de todas as regiões brasileiras, foram estudadas em maio de 2020 quanto ao impacto que a religiosidade e a espiritualidade tinham na saúde mental. Dessas, 86% tinham no mínimo o nível escolar universitário incompleto. De forma muito marcante, os níveis de preocupação diante da pandemia diminuíram: 46% com meditação diária, 58% com frequência a cerimônias religiosas (on-line ou não), 67% quando atividades gerais de crescimento espiritual eram observadas (meditação e participação ativa nas atividades religiosas). Em geral, a presença da fé e da prática religiosa diminuíram em 64% a presença do sentimento de tristeza em relação a quem não as pratica. De fato, observou-se que a cada 80 mil óbitos no ano passado causados pelo coronavírus, duplicaram as buscas no Google sobre “oração”.

E o que isso tem que ver com a saúde na pandemia? É fato bem sabido que a ansiedade e o medo afetam adversamente os sistemas fisiológicos que protegem as pessoas da infecção. Observamos no último ano em nossa prática de atendimento de milhares de pessoas com Covid que uma atitude de desesperança e falta de fé em alguns casos apresentam efeitos importantes no desfecho da doença.

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