Já era muito chocante acompanhar a distância, as informações sobre atentados, massacres e ameaças a escolas acontecendo em diversos países. Agora a realidade mudou. Em questão de semanas, isso passou a fazer parte do nosso cenário. Nossos filhos começaram a sentir medo de ir para a escola. Passamos a ver seguranças armados nos portões de entrada dos colégios.
Os noticiários nos deixaram estarrecidos: 5/4/2023 – quatro crianças foram mortas em ataque a creche em Blumenau; homem foi preso; 10/4 – uma professora e dois estudantes ficaram feridos em ataque realizado por adolescente em escola em Manaus; 11/4 – adolescente esfaqueou três colegas em escola de Goiás; 12/4 – duas crianças ficaram feridas após adolescente atacar escola no interior do Ceará; Morungaba suspendeu aulas da rede municipal após tentativa de ataque em escola.
O medo, a insegurança e a ansiedade vão se intensificando a cada dia, potencializados pelos grupos de WhatsApp, pelas conversas com amigos, pelas redes sociais e pela sensação de insegurança e vulnerabilidade que pais, alunos, professores, funcionários escolares têm sentido. Neste cenário tão lamentável, a pergunta que está em todos nós é: Como podemos proteger nossos filhos? Sim, há diversas ações que pais e responsáveis podem tomar para amenizar o sofrimento e aumentar a segurança.
Diálogo
Uma ferramenta primordial, e talvez pouco utilizada, é o diálogo. É essencial que os pais sentem para conversar com os filhos sobre tudo o que tem acontecido. Não é fácil para nós adultos entendermos o que está acontecendo; imagine para uma criança ou um adolescente, cujo cérebro ainda está imaturo. Entretanto, é fundamental dialogarem, pois certamente eles estão conversando com os amigos e até mesmo fantasiando muitas coisas sobre esse assunto. Por isso, é essencial que os ouçamos – e acredite: o que você disser para eles fará toda a diferença!
Antes de conduzir essa conversa, é importante você refletir sobre que mensagem deseja transmitir à criança ou ao adolescente. Lembrando que deve ser uma mensagem que o deixe seguro, calmo, e que se sinta acolhido e amparado. Evite termos técnicos. Fale de forma simples e objetiva, adequando o conteúdo à idade da criança/ adolescente. Também aproveite esse momento para transmitir valores socioemocionais, como respeito, empatia, compaixão, cidadania, amor ao próximo, bondade. Igualmente, vale reforçar orientações sobre formas não violentas de lidar com conflitos, bullying, raiva, frustrações e injustiças.
1. Ouça
Comece dando espaço para que seu filho fale sobre o que sabe a esse respeito e como tem se sentido. Quais as dúvidas e, principalmente, quais os medos.
2. Diga à criança ou ao adolescente como você está se sentindo
É importante que eles percebam que você também sente as mesmas emoções e que é natural sentirmos medo, ansiedade, tristeza, etc.
4. Escuta empática
Ouça de forma acolhedora, sem julgar, criticar nem ridicularizar o que é exposto a você.
5. Acolhimento
Acolha as falas, as emoções e, se for o caso, até as lágrimas. Assegure à criança que é normal ter essas emoções e que essa conversa é exatamente para ajudá-la a lidar com tudo isso.
6. Responda às dúvidas
Seja verdadeiro e responda às dúvidas da criança e do adolescente. Tenha cuidado para não ser assustador. Mantenha o diálogo num tom de seriedade, de alerta, mas de segurança. Lembre-se: você não precisa ter todas as respostas.
7. Evite excesso de imagens e informações
Evite ao máximo fotos, filmagens, notícias em excesso, principalmente as sensacionalistas.
8. Mensagem positiva
Transmita calma, segurança e positividade, afirmando que situações como essas são raras de acontecer e que existem pessoas trabalhando incansavelmente para resolver esse problema.
9. Segurança na escola
Descreva para a criança as medidas de segurança que estão sendo tomadas na escola dela.
10. Incentive-a a buscar ajuda
Diga que se a criança vir ou ouvir algo que a deixe insegura, com medo, ou que seja suspeito, que imediatamente deverá buscar a ajuda de seus
3. Nomeie as emoções
Ajude a criança/adolescente a nomear suas emoções. É extremamente importante fazer isso para que ela/ele se sinta mais organizado emocionalmente, entendendo o que está acontecendo com suas emoções. Quando isso não acontece, a criança muitas vezes tem a sensação de que a angústia e o medo que está sentindo são coisas muito ruins ou erradas. Diga o nome das emoções. Diga que você também sente tais emoções e que é normal senti-las em situações como as que estamos vivendo. Ao fazer isso, você acalma seu filho, ajudando-o a compreender que está tudo bem lidarmos com diversas emoções. Isso ajuda seu filho a compreender que essas emoções não são ruins; elas nos colocam em alerta, nos protegem diante de uma situação desafiadora.
professores, monitores, da equipe escolar e de seus pais.
11. Ambientes digitais
Explique que muitas dessas situações são alimentadas pelas redes sociais. Fale sobre a importância de ter muito cuidado e de estar atento a tudo o que vê, ouve e lê nas redes sociais.
12. Mais de uma conversa
Esses assuntos deverão ser conversados mais de uma vez, já que a criança e o adolescente aprendem pela repetição. Para que eles se sintam acolhidos, também é importante um espaço aberto para compartilhar suas angústias e dúvidas.
13. Cuidados pessoais
Fale sobre a importância de não levar para a escola nenhum objeto que não seja o material escolar. Diga que você olhará a mochila para assegurar de que a criança ou adolescente esteja indo para a escola de forma segura.
14. Pergunte a seu filho se ele tem sofrido alguma situação relacionada a bullying, preconceitos, discriminação ou agressividade
Também se assegure de que ele não pratique essas atitudes. Caso ele esteja sofrendo ou praticando algum desses comportamentos, é importante tomar atitudes relacionadas a isso em conjunto com a escola, para proteger seu filho desses sofrimentos.
15. Quando é hora de buscar ajuda profissional?
Se a criança tem apresentado um quadro de muito medo, ansiedade, dificuldades com o sono, pesadelos, dores no corpo, choro; se perceber que ela apresenta mudanças significativas de comporta-mento (dormindo muito ou pouco; comendo muito ou pouco; tempo excessivo em tecnologia; muito tempo trancada no quarto; isolamento dos amigos; queda no rendimento escolar; irritabilidade e agressividade), procure imediatamente um psicólogo para avaliação. Mesmo após conversarem, se isso perdurar, busque um psicólogo para ajudar. Ao dialogar com os filhos, ajudamos significativamente a lidar com todas essas questões e a diminuir o sofrimento deles. Entretanto, mais algumas ações são fundamentais. Diversos ataques foram feitos por alunos que portavam objetos inadequados para o ambiente escolar. É certo que a escola não consegue ter controle absoluto sobre o que os alunos levam na mochila. É momento de mais uma vez nos unirmos e cada um fazer a sua parte no que diz respeito à sua casa. Cada família precisa monitorar o que seus filhos estão levando para a escola. Será que na mo-chila, no estojo, nos bolsos e casacos não há objetos cortantes, perfurantes ou que podem servir para alguma forma de agressão aos colegas? Essa verificação deveria ser feita em todas as famílias, para que os alunos estejam realmente portando apenas os materiais escolares e, assim, aumentar o nível de segurança para todos. Também é importante uma olhada sistemática em gavetas, armários e guarda-roupas dos filhos. Será que não há objetos que eles estejam guardando, dos quais não estamos cientes?
Se a criança tem apresentado um quadro de muito medo, ansiedade, dificuldades com o sono, pesadelos, dores no corpo, choro; se perceber que ela apresenta mudanças significativas de comporta-mento (dormindo muito ou pouco; comendo muito ou pouco; tempo excessivo em tecnologia; muito tempo trancada no quarto; isolamento dos amigos; queda no rendimento escolar; irritabilidade e agressividade), procure imediatamente um psicólogo para avaliação. Mesmo após conversarem, se isso perdurar, busque um psicólogo para ajudar. Ao dialogar com os filhos, ajudamos significativamente a lidar com todas essas questões e a diminuir o sofrimento deles. Entretanto, mais algumas ações são fundamentais. Diversos ataques foram feitos por alunos que portavam objetos inadequados para o ambiente escolar. É certo que a escola não consegue ter controle absoluto sobre o que os alunos levam na mochila. É momento de mais uma vez nos unirmos e cada um fazer a sua parte no que diz respeito à sua casa. Cada família precisa monitorar o que seus filhos estão levando para a escola. Será que na mo-chila, no estojo, nos bolsos e casacos não há ob-jetos cortantes, perfurantes ou que podem servir para alguma forma de agressão aos colegas? Essa verificação deveria ser feita em todas as famílias, para que os alunos estejam realmente portando apenas os materiais escolares e, assim, aumentar o nível de segurança para todos. Também é importante uma olhada sistemática em gavetas, armários e guarda-roupas dos filhos. Será que não há objetos que eles estejam guardando, dos quais não estamos cientes?
Alfabetização digital
Hoje nossos filhos estão tendo acesso intenso a muitas informações as quais, em boa parte dos casos, não têm maturidade para gerenciar. Alguns exemplos são os conteúdos de movimentos ideológicos e políticos extremados, neonazismo, que muitas vezes aparece misturado com humor, bullying e cyberbullying, misoginia, racismo, preconceitos diversos, além dos conteúdos que promovem a adultização infantil, hipersexualização das crianças e dos adolescentes, pedofilia e normalização da violência.
Não podemos deixar nossos filhos expostos à tecnologia sem serem supervisionados, orientados e estabelecidos limites de conteúdos e tempo de uso. É responsabilidade nossa o processo de alfabetização digital das crianças e dos adolescentes. Temos visto um número assustador de pessoas sofrendo de “nomofobia” (no mobile fobia), que é o medo excessivo de ficar sem celular, telas eletrônicas ou internet. No Brasil, já existem clínicas especializadas para tratar os dependentes digitais.
Muitos acreditavam que com tanto acesso à tecnologias e à diversidade de informações, os filhos
iriam compor uma geração diferenciada e extremamente inteligente. As apostas estavam erradas. Isso é o que foi comprovado em inúmeros estudos científicos publicados por diversos pesquisadores, como, por exemplo, o que foi conduzido pelo neurocientista francês Michel Desmurget, que comprovou que pela primeira vez na história os filhos possuem QI (quociente de inteligência) menor que seus pais. Além de as tecnologias não os deixarem mais inteligentes, eles ainda estão apresentando preocupantes problemas de socialização, dificuldades com sono, obesidade, atrasos psicomotores e alguns transtornos emocionais.
E os pediatras apresentam algumas importantes sugestões sobre o uso saudável de telas. Os filhos não deveriam “virar a noite” jogando ou utilizando telas. Também é importante ressaltar que a tecnologia deve ser utilizada em ambientes abertos e de circulação comum das pessoas da casa. Isso significa que o hábito de usar telas no quarto, banheiro ou longe de todos não deve ser permitido. Outro cuidado que se deve ter é para não utilizar as telas durante as refeições e que todo acesso à tela deve ser encerrado entre uma a duas horas antes de dormir, para que haja melhor qualidade no sono. Os médicos ainda alertam para o tempo indicado para acesso e utilização de telas, levando- se em conta a faixa etária.
A exposição excessiva às diversas formas de tecnologia também tem tido um impacto emocional nos filhos. Em decorrência da hiperestimulação de som, brilho, movimento, informação, as crianças e os adolescentes não estão prontos para processar tantos estímulos, e isso acaba se desdobrando em aspectos emocionais e comportamentais, como agitação, dificuldade de atenção e concentração, inquietação, dificuldades com o sono, medo, ansiedade.
Aliadas a isso, ameaças, como as que temos enfrentado desde o início dos atentados em escolas, inevitavelmente potencializam ainda mais os desafios emocionais e comportamentais. A falta de conhecimento sobre os aspectos emocionais acaba por intensificar o sofrimento dos filhos.
Como saber se meu filho não está bem
Quando algo não está bem com as emoções do seu filho, alguns sinais e sintomas são bem característicos e servem como alerta para os pais e profissionais. Geralmente, acontecem mudanças comportamentais como, por exemplo: comer demais ou ter dificuldade para comer; dormir por muitas horas ou não conseguir dormir; agressividade; irritabilidade; boa parte do tempo apresentando tristeza; isolamento social.
Outra característica muito comum são as queixas de dores. Frequentemente, essas dores são de cabeça, barriga, garganta ou ouvido. Dores que aparecem e muitas vezes somem, sem uma causa orgânica que justifique. Tem sido recorrentes casos em que começam a aparecer as crises de ansiedade.
Alguns sintomas de ansiedade:
• Preocupações, tensões ou medo exagerado, em que a pessoa não consegue relaxar ou se controlar. • Sensação constante de que algo muito ruim estáprestes a acontecer.
• Falta de controle sobre pensamentos e atitudes.
• Sensação de desespero depois de uma situação conturbada.
• Dificuldade de concentração em tarefas simples.
• Sintomas físicos como: falta de ar, náusea, tontura, tremores nas mãos ou no corpo, cansaço, boca seca e outros.
• Técnica de ancoragem: peça que descreva cinco coisas que consegue ver no ambiente em que está; peça que procure e pegue quatro coisas com texturas diferentes; três sons diferentes que consegue ouvir no momento; provar duas coisas com sabores diferentes e descrever a textura e o sabor; sentir um cheiro de algo no ambiente.
Permanecer com a criança durante a crise
Após a identificação da primeira crise de ansiedade, é recomendado já marcar uma consulta com o psicólogo. Quanto mais cedo o diagnóstico for realizado, mais fácil e rápido será o tratamento.
Neste momento de tantos desafios, a prevenção é a principal arma de proteção para os filhos. Nossa presença mais intensa junto deles, conversando, orientando e, principalmente, transmitindo valores socioemocionais será essencial para fortalecê-los, dando o suporte necessário para darem conta de tantos desafios.
Wélida Dancini
Doutora em Psicologia
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