A democracia do amor
Quando nossos direitos e deveres serão apenas amar
“É só o amor que conhece o que é verdade” – esta frase faz parte de uma música muito tocada desde o fim da década de 1980. Mas ela não chega a ser autoral. Na verdade, faz alusão, bem como outros trechos da canção, ao capítulo 13 do livro bíblico de 1 Coríntios, em que Paulo exalta o amor como dom supremo.
Paulo diz: “Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o sino que ressoa ou como o prato que retine. Ainda que eu tenha o dom de profecia e saiba todos os mistérios e todo o conhecimento, e tenha uma fé capaz de mover montanhas, mas não tiver amor, nada serei.
“Ainda que eu dê aos pobres tudo o que possuo e entregue o meu corpo para ser queimado, mas não tiver amor, nada disso me valerá. O amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se orgulha. Não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor.
“O amor não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade.
Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor nunca perece; mas as profecias desaparecerão, as línguas cessarão, o conhecimento passará.
“Pois em parte conhecemos e em parte profetizamos; quando, porém, vier o que é perfeito, o que é imperfeito desaparecerá. Quando eu era menino, falava como menino, pensava como menino e raciocinava como menino. Quando me tornei homem, deixei para trás as coisas de menino.
“Agora, pois, vemos apenas um reflexo obscuro, como em espelho; mas, então, veremos face a face. Agora conheço em parte; então, conhecerei plenamente, da mesma forma como sou plenamente conhecido.
“Assim, permanecem agora estes três: a fé, a esperança e o amor. O maior deles, porém, é o amor” (1 Coríntios 13:1-13, Nova Versão Internacional).
Você pode não gostar da banda brasileira que fez uso da mensagem; você pode não ser um leitor da Bíblia; você pode não entender a profundidade do que isso significa. De toda maneira, o amor diz respeito a todos nós. E é a falta dele que nos causa pavor.
Seria o efeito do amor verificável? Vejamos o que a ciência tem a dizer. Não faz muitos meses, a London School of Economics, no Reino Unido, apresentou em conferência junto à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) um estudo que analisou 200 mil respostas de pessoas da Austrália, Reino Unido, Alemanha e dos Estados Unidos sobre os fatores que mais influenciam sua sensação de bem-estar.
Preste atenção nos resultados: em uma escala de um a dez, dobrar o salário de alguém eleva sua felicidade em menos de 0,2. Estar em um relacionamento eleva a felicidade em 0,6. “As evidências mostram que as coisas que mais importam para nossa felicidade e infelicidade são nossas relações sociais e nossa saúde física e mental”, afirma o coautor do estudo Richard Layard.
A pesquisa tem um grande impacto social, porque a maior parte dos governos passa muito tempo tentando resolver questões de economia, saúde, educação, segurança pública, desemprego, drogas, etc. Mas o que os dados apontam é que as pessoas associam a felicidade à boa saúde e aos bons relacionamentos.
Então, não é a carreira nem o mercado, não são os bens; não é a aparência, não é a popularidade, nem a riqueza que definem a felicidade. São os laços construídos desde a infância, o tempo dedicado para estar junto, dar as mãos desinteressadamente que farão do mundo um lugar melhor para se viver.
Não é a tecnologia nem se mudar para Marte que trarão alívio aos terráqueos, mas, sim, ter como referência o amor. Assim, tudo aqui se tornaria sustentável e as disparidades se esconderiam no altruísmo. Bons relacionamentos diminuiriam lacunas e mazelas; colocariam todos em pé de igualdade, e em ordem um mundo em caos – eis a promessa deixada na Cruz, símbolo do amor maior: a de que um dia tudo será renovado pela democracia do amor.
Agatha Lemos é editora associada de Vida e Saúde
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