quinta-feira, 18 abril

Dores que vêm à tona

Texto por: admin 24 janeiro, 2019 Sem comentários

Você sabia que razão e emoção não andam na mesma velocidade? A razão é mais rápida. Razão, no sentido de pensamento, sempre sai na frente. Em seguida, vem a emoção. Isso ocorre porque o sentimento é reflexo do pensamento, ou seja, a emoção depende de uma cognição.

Somos diferentes em vários sentidos quanto à nossa maneira de experimentar os pensamentos e os sentimentos. Em geral, primeiro compreendemos alguma verdade, ela entra em nossa consciência como uma informação racional, e depois, mais adiante ou imediatamente, apresentamos uma reação emocional.

Por exemplo, há pessoas que, ao passarem por um evento trágico, reagem imediatamente por meio do choro, tristeza, ansiedade, irritabilidade, etc. Enquanto isso, outra pessoa que passou pelo mesmo evento, um irmão talvez, consegue agir racionalmente, tomando providências, além de conseguir socorrer outras vítimas.

É interessante notar que, em uma mesma família, filhos dos mesmos pais se portam de modo diferente quanto ao lidar com os pensamentos e com os sentimentos diante de situações da vida. Um é mais sensível que outro. Um é mais resistente aos problemas que o outro.

Essa diferença no comportamento de cada pessoa é normal. O modo de cada pessoa reagir tem que ver com o que ela conseguiu se tornar até determinado momento da vida.

Contudo, é importante destacar que as pessoas que conseguem reagir racionalmente diante de situações estressantes e trágicas, poderão apresentar mais tarde reações emocionais: ansiedade excessiva, tristeza, desânimo, apatia, e até depressão. Por quê?

Controle emocional

Pessoas que só apresentam reações emocionais dolorosas bem depois de passado o evento traumático, aprenderam a ter controle racional sobre os sentimentos possivelmente desde a infância. Na hora da crise ou dificuldade, não se apavoram e mantêm o autocontrole. O problema é que o autocontrole de hoje se transformará em dor emocional ligada ao trauma, mais tarde, em sua consciência.

Isso se intensifica ainda mais quando o padrão comportamental do indivíduo, ao longo da vida, tem sido voltado para guardar os sentimentos em vez de expressá-los na hora. Mais tarde, quando as emoções surgem em sua consciência, elas podem ser bastante dolorosas.

Você pode viver uma situação estressante agora e, de maneira surpreendente sua reação emocional pode ser desproporcional ao evento traumático. Isso ocorre porque as emoções reprimidas ligadas aos passado agora saem juntas e de uma só vez. E pode ser pesado. Pode doer bastante!

Se você é alguém que tende a controlar demais suas emoções na hora do problema, você deve, pelo menos, se perguntar: “O que este problema me faz sentir?”. “Que tipo de emoção estou sentindo com o ocorrido? “Que tipo de sentimento seria normal em tais condições?”

Procure, então, identificar (dar o nome) ao sentimento do presente e falar dele para desabafar.

Se você não consegue realizar este exercício, e realmente suas emoções dolorosas só surgem lá na frente, então é importante não se apavorar quando elas vierem, e lembrar para si mesmo sobre sua tendência de guardar para depois, talvez inconscientemente, a experiência dos sentimentos. Tente fazer uma conexão em sua mente sobre a dor que sente agora e perdas do passado. Mas, não se apavore e tenha paciência consigo mesmo. É verdade que aquilo que sentimos de agradável, passa. Mas o que é ruim, também passa. Essa dor também vai passar.

Cesar Vasconcellos de Souza é psiquiatra

www.doutorcesar.com.br | www.novotempo.com/claramente

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