Ela passa rapidamente
Movido pelo desejo de permanência, o ser humano raramente reflete sobre a instabilidade da vida
A história dá testemunho de pessoas que foram movidas pelo desejo de permanência e imortalidade. Os faraós do antigo Egito são um exemplo desse fato. Eles eram considerados descendentes das divindades e, por isso, se julgavam imortais. Quando empreendiam seus projetos, procuravam imprimir a marca da eternidade. Júlio Schwantes escreveu: “A transitoriedade das glórias terrestres e a vã esperança de permanência acalentada em todo coração, constituem um contraste melancólico. A inevitabilidade da morte lança um véu sombrio sobre os sonhos mais dourados” (Despontar de Uma Nova Era, p. 269).
Uma qualidade essencial do ser humano é sua capacidade de empreendimento. A vida demanda produtividade. Entretanto, essa mesma vida, dinâmica e repleta de realizações, é transitória. Falando desse aspecto, o apóstolo Tiago escreveu: “Vocês nem sabem o que lhes acontecerá amanhã! Que é sua vida? Vocês são como a neblina que aparece por um pouco de tempo e depois se dissipa” (Tiago 4:14).
Na verdade, as palavras de Tiago não conspiram jamais contra o dinamismo da vida, principalmente nos tempos modernos em que as mudanças, como disse Heráclito (480 a.C.), são permanentes. A vida moderna demanda esforço, criatividade, desenvolvimento cada vez maior por parte dos profissionais em todas as áreas do conhecimento. Enfim, a vida impõe um ritmo cada vez mais célere. Mesmo assim, ela continua sendo instável.
O ser humano, movido pelo desejo de permanência não se dá conta de sua incerteza quanto ao futuro. Uma das parábolas contadas por Jesus Cristo reflete esse aspecto. É a parábola do rico insensato. Ela está relatada no evangelho de Lucas, no capítulo 12. O personagem principal era um homem que possuía muitos bens. Então ele disse: “Já sei o que vou fazer. Vou derrubar os meus celeiros e construir outros maiores, e ali guardarei toda a minha safra e todos os meus bens. E direi a mim mesmo: Você tem grande quantidade de bens, armazenados para muitos anos. Descanse, coma, beba e alegre-se” (Lucas 12:18, 19).
Do ponto de vista econômico e empreendedor, a postura desse homem foi correta. Ela expressou dinamismo, esforço e inteligência. Entretanto, ele parecia não ter consciência da instabilidade da vida. Cristo disse: “Insensato! Esta mesma noite a sua vida lhe será exigida. Então, quem ficará com o que você preparou?” (Lucas 12:20). Aquele homem ignorou o fato de que, quando a vida se vai, nada do que se possui é capaz de trazê-la de volta.
Quando o ser humano tem consciência de que a vida, por melhor que seja, é instável, isso o leva a uma profunda convicção de suas limitações. É então que ele percebe que está restrito ao tempo e ao espaço. Daí provém, igualmente, seu sentimento de impotência, gerando no coração o desejo de se apegar a algo permanente que esteja fora dele.
Voltando à parábola, a ingenuidade do personagem residiu no fato de que ele podia mensurar e controlar suas propriedades, mas não podia ser absoluto sobre a vida. A aparente permanência se destroçou nos recifes da transitoriedade. Essa parábola, contudo, jamais deve nos impedir de planejar atividades, empreender projetos e conquistar alvos e metas. Entretanto, é necessário realizar tudo isso tendo Cristo, a fonte da vida eterna, como o primeiro e o último de nossa existência. Ele mesmo disse: “Aquele que crê em Mim, ainda que morra, viverá” (João 11:25).
Acredite!
Nerivan Silva é editor associado da revista Vida e Saúde
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