Escolhas
Manhã de quinta-feira ensolarada, de abril, no Rio de Janeiro. O engenheiro Eduardo Marinho Albuquerque, 54 anos, decidiu sair de casa para correr um pouco. Antes, porém, escreveu um bilhete para o filho de 15 anos: “Vou correr, volto já, te amo muito!” E saiu. Quando passava por cima da recém-inaugurada ciclovia na linda Avenida Niemeyer, uma forte onda atingiu justamente o trecho em que ele corria, fazendo-o desabar e levando à morte duas pessoas. Naquele dia, Eduardo não voltou para casa, e as palavras escritas para o filho adquiriram significado muito mais profundo.
Poucos dias antes da tragédia no Rio, um casal de Criciúma, SC, foi detido no Aeroporto Internacional de Sydney, na Austrália, com seis quilos de cocaína. A droga estava escondida no forro da bagagem. Os dois são jovens, de boa condição financeira e bonitos. Ele tem 30 anos e ela, 24. Com a vida toda pela frente, podem pegar prisão perpétua, segundo as leis australianas.
Eduardo não está mais entre nós. Deixou um vazio irreparável na família. Mas agora todos sabem do amor que nutria pelo filho, algo que certamente o garoto já sabia. Revela muito o simples gesto de escrever um bilhetinho antes da atividade corriqueira de correr para voltar dali poucas horas. Não é preciso esperar datas especiais para dar um cartão ou dizer palavras de amor. Não é preciso chegar o Natal ou o aniversário para mostrar que gostamos das pessoas e que nos importamos com elas. Devemos aproveitar cada momento para expressar o que sentimos; para tocar o coração de quem amamos. Eduardo nos deixou esse exemplo. Sua ausência será sentida, sem dúvida, mas seu gesto continuará “falando”. Como um bilhete impresso em nossa mente, a atitude do engenheiro nos fará lembrar que a correria da vida não é desculpa para não dizer “eu te amo”.
Por outro lado, os jovens criciumenses que tinham toda a vida pela frente, acabaram deixando outro tipo de marca: a da tristeza, da revolta, da inconsequência, da sensação de impotência e de oportunidades perdidas. “Onde foi que erramos?”, podem estar pensando os pais. Os filhos estão vivos, mas, se ficarem confinados para o resto da vida numa prisão do outro lado do mundo, não será quase como se tivessem morrido? Sem bilhetes de “volto já, te amo muito”, o rapaz e a moça cruzaram o planeta para despedaçar o coração dos que os amam. E não foi pela ausência da morte, mas pelo desperdício da vida. Correram sem dizer “te amo”, e talvez não possam voltar para pedir “perdão”.
O pai carioca e os filhos catarinenses são exemplos extremos de quanto as escolhas fazem diferença. Deus nos ajude a não perder nenhuma oportunidade de manifestar nosso amor e nos ajude, também, a tomar decisões sábias. Decisões que deixem uma marca positiva na vida das pessoas.
“Vou correr, volto já, te amo muito!”
Michelson Borges é editor da revista Vida e Saúde
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